Marechal Rondon: 150 anos de nascimento do eterno sertanista brasileiro
Brasília, 5/5/2015 – Há exatos 150 anos, em 5 de abril de 1865, nascia Cândido Mariano da Silva, o marechal Rondon, em Mimoso (MT). Patrono da arma de Comunicações do Exército Brasileiro é reconhecido por atuar em diferentes áreas, tendo trabalhado como indigenista, sertanista, geógrafo, cartógrafo, botânico, etnólogo, antropólogo e ecologista. Por todo o seu legado, principalmente na integração da Amazônia e do Mato Grosso, o Ministério da Defesa homenageia o herói nacional.
Entre suas inúmeras conquistas, está a implantação de telégrafos no leste e sul do Mato Grosso, o que possibilitou a interação entre os estados de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro com a região. Antes disso, para alguém do Mato Grosso entrar em contato com o Rio, por exemplo, era preciso navegar o Atlântico, passar pelo Rio da Prata e subir o Rio Paraguai. Não existiam estradas, nem outra forma de comunicação rápida.
Todo o processo perdurou entre os anos de 1892 e 1906. De julho de 1900 a agosto de 1906, foram implantados 1.746 km de cabos, conectando 17 estações ao longo das cidades de Cuiabá a Cáceres. Com isso, o sul do Mato Grosso estava ligado ao Brasil. No caso do leste do estado, foram 517 km de cabos entre os municípios de Cuiabá e Registro do Araguaia.
Por ordem do então presidente Afonso Pena, Rondon liderou expedição à Amazônia para instalar telégrafos, com o objetivo de interligar Mato Grosso com a região. Esta etapa ocorreu de 1907 a 1910. À época, a ação foi importante dada à necessidade do governo controlar o comércio internacional que atravessava o território brasileiro. No entanto, a linha que unia os dois estados só foi concluída em 1915, com a inauguração da Estação Telegráfica do Madeira.
Nos estados pelos quais passou, as áreas exploradas por Cândido Mariano eram habitadas predominantemente por índios das mais variadas etnias, algumas delas ainda hostis. A política do sertanista de não revidar, nem usar violência, culminou na frase “morrer se preciso for, matar nunca”.
O lema que acompanhou o marechal em toda sua trajetória é motivo de orgulho para a bisneta Sigorety Rondon Brasil. Apesar de não ter conhecido o familiar ilustre, e de ter perdido o avô, Benjamim, quando ainda era criança, ela conta que sempre ouviu histórias sobre “o grande amor e o respeito pelo meu povo indígena” que o bisavô tinha.
Professora, de 47 anos, Sigorety lembrou que se encantava com os livros de História, no colégio, que descreviam o legado de Rondon no Exército. “Ele dedicou-se à construção de linhas telegráficas pela vastidão do interior brasileiro. Durante sua vida, abriu caminhos e elaborou as primeiras cartas geográficas. Nosso sobrenome tem um grande significado de amor”, disse.
Questão indígena
Por ter sangue indígena, marechal Rondon tinha a certeza de que os índios não eram hostis e poderiam integrar-se à sociedade. Estavam, na verdade, sendo dizimados há séculos por colonizadores que invadiam suas aldeias e os expulsavam de suas próprias terras.
Nas expedições que comandou mostrava a busca pela paz e amizade, alcançada com a troca de presentes, como machados, caldeirões e facões. Ao longo das andanças pelo Brasil, alguns de seus subordinados perderam a vida ou foram feridos, mas nenhum deles recuou do lema de Rondon.
Para o historiador Delmo de Oliveira Arguelhes, professor-doutor do Programa de Mestrado em Ciência Política do Centro Universitário Euro-Americano de Brasília, Rondon foi uma figura relevante na ocupação do território nacional. “No tocante à fronteira oeste do Brasil, ele foi elemento-chave, tanto pelo trabalho com as populações indígenas quanto com as comunicações (integração). Foi, portanto, um desbravador da terra incógnita”.
Em 1910 foi criado o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), tendo como presidente Cândido Mariano Rondon. A ideia do órgão era dar condições para a sobrevivência dos indígenas. Para isso, propunha a demarcação das terras, protegia-os de explorações, prestava atendimento de saúde, proporcionava educação formal e ensinava ofícios relacionados a cultivo e administração de solos, rios e lagos.
Alguns anos depois, em 1939, surgiu o Conselho Nacional de Proteção ao Índio (CNPI) – espécie de instituição reguladora do SPI –, que foi presidido por Rondon ao longo de 18 anos. A Fundação Nacional do Índio (Funai) apareceria apenas em 1967, em substituição ao SPI.
O subtenente do Exército Fernando da Silva Rodrigues, da Escola Superior de Guerra, pós-doutor em História Política e com trabalhos publicados com ênfase no legado de marechal Cândido Rondon ressalta que “as atividades de Rondon tinham como ideal a integração e a civilização do sertão, principalmente dos grupos indígenas brasileiros esquecidos no seu ‘atraso cultural’, na sua condição de ‘sociedade inferior’”.
Silva Rodrigues explica que, entre as atribuições de Rondon, estava a de “ser a peça fundamental de uma articulação política ao qual estava a serviço. Seria um símbolo nacional republicano: militar, positivista, patriota e civilizado”.
Foi graças ao sertanista e desbravador que foi possível a criação do Parque do Xingu (atualmente maior reserva indígena brasileira com de cerca de 27 mil km² ), em Mato Grosso; e o Museu do Índio, no Rio de Janeiro.
De acordo com Arguelhes, o marechal pode sim ser considerado herói por seus feitos históricos. “Rondon encarnou um modelo a ser seguido de liderança. A trajetória biográfica dele mostra uma integração territorial positiva, à medida que ele buscou o diálogo e não o uso da força. Modelo, portanto, não apenas de liderança no Exército, como também no país.”
Carreira militar
Cândido Mariano ficou órfão aos dois anos. Quem o criou foi a bisavó, mestiça de índia bororo. Aos 7 anos, mudou-se para Cuiabá onde morou com o tio Manoel Rondon. Lá, formou-se, aos 15 anos, professor.
Optou pela carreira militar e foi para o Rio de Janeiro cursar as três séries do Ensino Médio no Colégio Pedro II e depois ingressou na Escola Militar. Em 1890, completou os estudos na Escola e, em homenagem ao tio, adotou o sobrenome que o daria notoriedade.
Marechal Rondon participou ativamente da Revolução de 1924. O sertanista e desbravador foi quem instalou o Quartel-General em Ponta Grossa (PR), em outubro daquele ano. De lá, e em Santa Catarina, comandou as tropas que combateram os revoltosos empenhados em depor o presidente da época, Artur Bernardes.
Seu pacifismo sempre falava mais alto, o que o fez demonstrar superioridade de seus homens sem ter que derramar sangue. Finalizou a campanha em junho de 1925.
“O Rondon herói foi reconhecido pela sociedade brasileira, pela sociedade internacional e pelo próprio Congresso brasileiro, principalmente quando foi promovido a Marechal em 1955, pelas suas atividades profissionais dentro do Exército e, mais importante ainda, realizadas dentro do território nacional”, afirmou o subtenente Silva Rodrigues.
As promoções dos marechais na Força Terrestre estão vinculadas à participação efetiva em uma guerra. “Rondon foi o único marechal promovido por atuar no espaço da paz e do serviço a pátria”, finalizou.
Projeto Rondon
O Projeto Rondon – uma homenagem ao lendário marechal – é uma iniciativa que estimula a participação de estudantes universitários no processo de desenvolvimento sustentável e fortalecimento da cidadania em municípios isolados e com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Realizado pelo Ministério da Defesa, em parceria com Instituições de Ensino Superior públicas e privadas, o projeto foi criado em 1967 e funcionou até 1989. Foi retomado a partir de 2005 e desde esta data já atendeu a cerca de 830 municípios, contando com a participação de quase 14 mil professores e estudantes.
O programa beneficia os municípios selecionados com o envio de docentes e alunos de diferentes áreas do conhecimento, que ministram palestras sobre ecologia, meio ambiente, cidadania, educação, saúde, entre outros.
Ministério da Defesa.
Por Marina Rocha
Entre suas inúmeras conquistas, está a implantação de telégrafos no leste e sul do Mato Grosso, o que possibilitou a interação entre os estados de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro com a região. Antes disso, para alguém do Mato Grosso entrar em contato com o Rio, por exemplo, era preciso navegar o Atlântico, passar pelo Rio da Prata e subir o Rio Paraguai. Não existiam estradas, nem outra forma de comunicação rápida.
Todo o processo perdurou entre os anos de 1892 e 1906. De julho de 1900 a agosto de 1906, foram implantados 1.746 km de cabos, conectando 17 estações ao longo das cidades de Cuiabá a Cáceres. Com isso, o sul do Mato Grosso estava ligado ao Brasil. No caso do leste do estado, foram 517 km de cabos entre os municípios de Cuiabá e Registro do Araguaia.
Por ordem do então presidente Afonso Pena, Rondon liderou expedição à Amazônia para instalar telégrafos, com o objetivo de interligar Mato Grosso com a região. Esta etapa ocorreu de 1907 a 1910. À época, a ação foi importante dada à necessidade do governo controlar o comércio internacional que atravessava o território brasileiro. No entanto, a linha que unia os dois estados só foi concluída em 1915, com a inauguração da Estação Telegráfica do Madeira.
Nos estados pelos quais passou, as áreas exploradas por Cândido Mariano eram habitadas predominantemente por índios das mais variadas etnias, algumas delas ainda hostis. A política do sertanista de não revidar, nem usar violência, culminou na frase “morrer se preciso for, matar nunca”.
O lema que acompanhou o marechal em toda sua trajetória é motivo de orgulho para a bisneta Sigorety Rondon Brasil. Apesar de não ter conhecido o familiar ilustre, e de ter perdido o avô, Benjamim, quando ainda era criança, ela conta que sempre ouviu histórias sobre “o grande amor e o respeito pelo meu povo indígena” que o bisavô tinha.
Professora, de 47 anos, Sigorety lembrou que se encantava com os livros de História, no colégio, que descreviam o legado de Rondon no Exército. “Ele dedicou-se à construção de linhas telegráficas pela vastidão do interior brasileiro. Durante sua vida, abriu caminhos e elaborou as primeiras cartas geográficas. Nosso sobrenome tem um grande significado de amor”, disse.
Questão indígena
Por ter sangue indígena, marechal Rondon tinha a certeza de que os índios não eram hostis e poderiam integrar-se à sociedade. Estavam, na verdade, sendo dizimados há séculos por colonizadores que invadiam suas aldeias e os expulsavam de suas próprias terras.
Nas expedições que comandou mostrava a busca pela paz e amizade, alcançada com a troca de presentes, como machados, caldeirões e facões. Ao longo das andanças pelo Brasil, alguns de seus subordinados perderam a vida ou foram feridos, mas nenhum deles recuou do lema de Rondon.
Para o historiador Delmo de Oliveira Arguelhes, professor-doutor do Programa de Mestrado em Ciência Política do Centro Universitário Euro-Americano de Brasília, Rondon foi uma figura relevante na ocupação do território nacional. “No tocante à fronteira oeste do Brasil, ele foi elemento-chave, tanto pelo trabalho com as populações indígenas quanto com as comunicações (integração). Foi, portanto, um desbravador da terra incógnita”.
Em 1910 foi criado o Serviço de Proteção aos Índios (SPI), tendo como presidente Cândido Mariano Rondon. A ideia do órgão era dar condições para a sobrevivência dos indígenas. Para isso, propunha a demarcação das terras, protegia-os de explorações, prestava atendimento de saúde, proporcionava educação formal e ensinava ofícios relacionados a cultivo e administração de solos, rios e lagos.
Alguns anos depois, em 1939, surgiu o Conselho Nacional de Proteção ao Índio (CNPI) – espécie de instituição reguladora do SPI –, que foi presidido por Rondon ao longo de 18 anos. A Fundação Nacional do Índio (Funai) apareceria apenas em 1967, em substituição ao SPI.
O subtenente do Exército Fernando da Silva Rodrigues, da Escola Superior de Guerra, pós-doutor em História Política e com trabalhos publicados com ênfase no legado de marechal Cândido Rondon ressalta que “as atividades de Rondon tinham como ideal a integração e a civilização do sertão, principalmente dos grupos indígenas brasileiros esquecidos no seu ‘atraso cultural’, na sua condição de ‘sociedade inferior’”.
Silva Rodrigues explica que, entre as atribuições de Rondon, estava a de “ser a peça fundamental de uma articulação política ao qual estava a serviço. Seria um símbolo nacional republicano: militar, positivista, patriota e civilizado”.
Foi graças ao sertanista e desbravador que foi possível a criação do Parque do Xingu (atualmente maior reserva indígena brasileira com de cerca de 27 mil km² ), em Mato Grosso; e o Museu do Índio, no Rio de Janeiro.
De acordo com Arguelhes, o marechal pode sim ser considerado herói por seus feitos históricos. “Rondon encarnou um modelo a ser seguido de liderança. A trajetória biográfica dele mostra uma integração territorial positiva, à medida que ele buscou o diálogo e não o uso da força. Modelo, portanto, não apenas de liderança no Exército, como também no país.”
Carreira militar
Cândido Mariano ficou órfão aos dois anos. Quem o criou foi a bisavó, mestiça de índia bororo. Aos 7 anos, mudou-se para Cuiabá onde morou com o tio Manoel Rondon. Lá, formou-se, aos 15 anos, professor.
Optou pela carreira militar e foi para o Rio de Janeiro cursar as três séries do Ensino Médio no Colégio Pedro II e depois ingressou na Escola Militar. Em 1890, completou os estudos na Escola e, em homenagem ao tio, adotou o sobrenome que o daria notoriedade.
Marechal Rondon participou ativamente da Revolução de 1924. O sertanista e desbravador foi quem instalou o Quartel-General em Ponta Grossa (PR), em outubro daquele ano. De lá, e em Santa Catarina, comandou as tropas que combateram os revoltosos empenhados em depor o presidente da época, Artur Bernardes.
Seu pacifismo sempre falava mais alto, o que o fez demonstrar superioridade de seus homens sem ter que derramar sangue. Finalizou a campanha em junho de 1925.
“O Rondon herói foi reconhecido pela sociedade brasileira, pela sociedade internacional e pelo próprio Congresso brasileiro, principalmente quando foi promovido a Marechal em 1955, pelas suas atividades profissionais dentro do Exército e, mais importante ainda, realizadas dentro do território nacional”, afirmou o subtenente Silva Rodrigues.
As promoções dos marechais na Força Terrestre estão vinculadas à participação efetiva em uma guerra. “Rondon foi o único marechal promovido por atuar no espaço da paz e do serviço a pátria”, finalizou.
Projeto Rondon
O Projeto Rondon – uma homenagem ao lendário marechal – é uma iniciativa que estimula a participação de estudantes universitários no processo de desenvolvimento sustentável e fortalecimento da cidadania em municípios isolados e com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Realizado pelo Ministério da Defesa, em parceria com Instituições de Ensino Superior públicas e privadas, o projeto foi criado em 1967 e funcionou até 1989. Foi retomado a partir de 2005 e desde esta data já atendeu a cerca de 830 municípios, contando com a participação de quase 14 mil professores e estudantes.
O programa beneficia os municípios selecionados com o envio de docentes e alunos de diferentes áreas do conhecimento, que ministram palestras sobre ecologia, meio ambiente, cidadania, educação, saúde, entre outros.
Ministério da Defesa.
Por Marina Rocha
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